Resumo

Partindo da visão funcionalista do lazer, que surge a partir da regulamentação da jornada de trabalho, abordamos o período histórico de maior transformação da cidade de São Paulo, onde a mesma adota novos rumos de crescimento e é dotada de uma estrutura de espaços de lazer visando a atender à demanda emergente de uma cidade industrializada, com ares de metrópole. Foi no período compreendido entre 1960-80 que os planos urbanísticos foram concretizados, dando continuidade às transformações iniciadas nos primórdios do século 20 e os lazeres adquiriram um novo significado para os citadinos, levando-os a usufruírem de forma diferenciada dos espaços urbanos construídos e destinados aos lazeres.

Palavras chaves: São Paulo, Espaços de Lazer, Desenvolvimento urbano

Abstract

Starting from the functionalist view of leisure, which arises from the regulation of working hours, we discuss the historical period of major transformation of the city of São Paulo, where it adopts new directions for growth and it is endowed with a structure of leisure spaces aiming to meet the emerging demand of an industrialized city, with an air of metropolis. It was in the period between the years 1960-80 that the urbanistic plans were implemented, continuing the transformations that began in the early 20th century and the leisure acquired a new meaning for townsmen, leading them to take advantage in a different way of the urban spaces built and intended for leisure.

Keywords: São Paulo, Leisure Spaces, Urban Development

Os lazeres e o crescimento vertiginoso da cidade

A partir dos anos 60, as comunicações ultrapassavam quaisquer limites ou barreiras nacionais, estabelecendo um fluxo rápido, apoiadas na alta tecnologia. Se antes se buscava o aprimoramento da produção técnica, agora se investe no aprimoramento eletrônico.

As cidades continuavam possuindo seus espaços organizados de acordo com as funções urbanas e os planos reguladores distinguem zonas residenciais, industriais, de serviços etc. Procuram-se outras formas de construir para atender aos novos modos de vida urbana. A densidade demográfica aumentava vertiginosamente e as cidades verticalizavam-se cada vez mais.

Novos problemas surgiram para serem solucionados: alta demanda da infraestrutura básica; bolsões de pobreza devido ao alto índice de migração; síndrome do automóvel que se torna um produto mais acessível à população; miscigenação cultural; isolamento dos habitantes que dividem seu tempo entre trabalho e a vivência em suas unidades de vizinhança1.

Tais elementos provocaram mudanças fundamentais nas relações homem/homem e homem/espaço. Em relação à primeira dimensão, vemos surgir uma não privacidade

1 Compreendido como espaço ou rede que abrange os movimentos diários ou semanais das pessoas.

pessoal ou familiar devido à aglomeração heterogênea, desordenada e confusa e com relação ao segundo, o alto custo do espaço gerava o uso intensivo.

Já na segunda dimensão, surge um Novo Urbanismo que defendia a diversidade do uso do solo e a ocupação deste por várias classes sociais; promovia a valorização da escala humana e, em consequência, do pedestre, que sem excluir o uso do automóvel, procuraria opções de acessibilidade a pé, o que traria uma melhor qualidade de vida na escala local, isto é, na comunidade.

Existe uma contraposição entre a Carta de Atenas (1933) e a do Novo Urbanismo (década de 1980) que deixa clara a destituição do papel de demiurgo até então atribuído ao arquiteto. Tal afirmação respalda-se no fato de que, enquanto a Carta de Atenas possui um caráter mais universal, a Carta do Novo Urbanismo possui o caráter nacional; a crença otimista na arquitetura e no urbanismo como fonte de mudanças da Carta de Atenas, contraposta a uma visão mais realista do papel do projeto urbano dentro da complexidade de fatores que influenciam o destino das cidades no Novo Urbanismo. Na Carta de Atenas, os postulados da arquitetura moderna eram tomados como o modelo para resgatar e reordenar as cidades, propiciando saúde e felicidade ao indivíduo e à coletividade e, no Novo Urbanismo, as determinações mais gerais de projeto transcendem estilos e a criação de unidades dentro de uma hierarquia urbana (região, vizinhança, distrito, corredor, quadra, rua e edifício), de modo a promover a mescla de funções e pessoas, acrescendo à vida pública um uso mais racional dos recursos existentes.

São Paulo não crescia isoladamente: a segunda metade do século XX foi marcada pelo exponencial crescimento das cidades em todos os continentes do mundo, tendendo a população a ser mais urbana que rural o que se torna realidade em 2007 (UNFPA, 2011).

Se até então houve progresso nas artes e nas letras, no que se refere aos estudos do lazer, a produção acadêmica científica de até então se resumia em poucas obras editadas na década de 50 e algumas nos anos 60. Conforme Gomes (2005:504):

Nesse período a bibliografia brasileira sobre lazer era escassa, com exceção de trabalhos como os de Inezil Marinho (desenvolvia no Rio de Janeiro um curso de Fundamentos e Técnicas de Recreação em 1955 e publicou Educação física, recreação e jogos, em 1957), Arnaldo Sussekind [...]e Ethel Bauzer Medeiros [...]. Em 1959, José Acácio Ferreira realiza uma pesquisa empírica sobre os trabalhadores assalariados no município de Salvador (BA), que resultou no livro Lazer Operário. [...] Posteriormente à publicação dessa pesquisa, dois fatos são relevantes para a evolução do estudo do lazer. O primeiro está relacionado à palestra realizada em 1966, em Recife, pelo sociólogo José Vicente de Freitas Marcondes, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, intitulada Trabalho e Lazer no Trópico. [...]. Alguns anos mais tarde, em 1970, é criado o curso de Pós-Graduação sobre Sociologia do Lazer e do Trabalho, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo [...].O segundo fato é a publicação, em 1968, do livro Lazer e Cultura, por João Camilo de Oliveira. [...].Entre os dias 27 e 30 de outubro de 1969, o SESC de São Paulo e a Secretaria de Bem-Estar do Município promoviam o Seminário sobre o lazer: perspectivas para uma cidade que trabalha, com o propósito de discutir a temática do lazer no Brasil, junto a pesquisadores e estudiosos do assunto. Esse seminário confirmava a proposição do lazer como produto do processo de desenvolvimento industrial.

No período referente às décadas de 1970/80, verificamos um incremento nos estudos do lazer, sendo, em 1970, redigida em Genebra, Suíça, a ‘Carta de Lazer’, revisada posteriormente (1979, 1981). A área de lazer tornava-se um campo de estudo com a criação do “Centro de Estudos de Lazer e Recreação” (CELAR), criado pela Pontifícia

Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), em 1973, seguido de uma série de encontros e seminários para a discussão de tal temática. O campo do lazer, seus desdobramentos na vida cotidiana do homem urbano e a influência de Joffre Dumazedier (1976, 1979, 1980) fizeram com que diferentes profissionais se dedicassem ao estudo da área. Fundamental em termos de importância foi a organização de um grupo de estudos e pesquisas empíricas no Serviço Social do Comércio de São Paulo (SESC): o “Centro de Estudos do Lazer” (Celazer), no término dos anos 70, que passou

a contar com a orientação de Joffre Dumazedier. A produção acadêmica sobre o tema começava a aflorar. Segundo Peixoto e Pereira (s/d)2, em seu estudo sobre ‘A evolução do estudo do lazer’, foram produzidos 83 trabalhos (entre teses e dissertação em instituições públicas e particulares) no período de 1969 a 1979.

No que tange à pesquisa da área de lazer nas décadas de 1970/80 são apontados como temas principais: pesquisa de atitude (comportamento); análise de demanda; pesquisa turística; ‘capacidade de carga’; parques e reservas; pesquisa orientada para água; populações especiais; esportes – conceitos e teorias; planejamento, política e evolução; sistemas de fluxo; modelos de desenvolvimento; análises do orçamento-tempo; profissionalismo e prática; estudos históricos; estudos culturais; facilidades administrativas; espaços abertos; lazer caseiro e recreação; voluntarismo.

Podemos afirmar que, atingindo a primeira década do século XXI, o Brasil já produzia estudos significativos nos temas apontados como emergentes no período mencionado.

Os planos urbanísticos definiam o futuro da metrópole

No que tange ao crescimento da cidade de São Paulo, a década de 1960 foi marcada pela gestão de dois prefeitos que buscaram, através de diferentes obras, modernizar a cidade que já crescia em ritmo muito acelerado: Francisco Prestes Maia (1961-64) e José Vicente Faria Lima (1965-69).

Prestes Maia, que já havia exercido um mandato anteriormente, deu continuidade ao ‘Plano de Avenidas’. Foi levado a cabo nesse período o alargamento da Rua Iguatemi (atual Faria Lima), da Av. Radial Leste, assim como das avenidas Dr. Arnaldo e Cruzeiro do Sul e a construção da Avenida Giovanni Gronchi.

Na segunda metade da década de 1960, sob a gestão do Prefeito Faria Lima (1965-69), a cidade de São Paulo viu seu cotidiano alterado através do ‘Plano Urbanístico Básico de São Paulo’ (PUB). Nele foram propostas inúmeras obras de alargamento de ruas e avenidas, a imposição de novos recuos aos edifícios e a demolição de alguns outros para dar espaço aos novos prédios comerciais. A cidade então foi contemplada com novas avenidas e também com o metrô. Alguns córregos que corriam a céu aberto foram canalizados e sobre eles, avenidas surgiram. Segundo palavras de Faria Lima: "A cada ano crescemos uma nova Brasília, a cada dois uma nova Curitiba e a cada três uma nova Porto Alegre. É preciso construir e trabalhar muito”. 3

Era de se esperar que a cidade se verticalizasse cada vez mais na região central e em alguns bairros próximos, enquanto a periferia se horizontalizava pela ocupação das classes mais baixas. Tal implemento no crescimento da cidade deveu-se ao fato de que no governo de Juscelino Kubitschek a economia havia se acelerado com o ingresso de

capital estrangeiro. Nesse período, vemos uma fase de transição da ‘Metrópole Vertical’4 para ‘Metrópole Moderna’, assim denominada por Souza (1994:52).

2 Disponível em:

<<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/_files/4Et7sk6t.pdf>>. Acesso em: 26 abr. 2009.

3 Disponível em: < http://www.sampa.art.br/biografias/farialima/ >. Acesso em: 04 set. 2010.

4 A ‘Metrópole Vertical’ compreende o período de 1945-64 em que através da incorporação imobiliária e do adensamento, advindo da verticalização, principalmente residencial, gerou-se um caos urbano devido ao intenso processo de expansão apesar do planejamento e das modernizações urbanas. A ‘Metrópole

Sob a gestão de Paulo Maluf (1969-1971) na prefeitura, a cidade sofreu algumas intervenções urbanas (hoje, bastante discutíveis): o Elevado Presidente Costa e Silva, a Praça Roosevelt e a Praça 14 Bis.

Figueiredo Ferraz, que no período de 1971-73 ocupou a Secretaria de Obras de São Paulo, e, posteriormente, a Prefeitura do Município, iniciou em sua gestão as obras do metrô e institui o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado - PDDI (lei municipal 7688/71) cujo teor fora pautado nas recomendações do Plano Urbanístico Básico - PUB e do ‘Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado’ - PMDI. As diretrizes do PDDI estão consolidadas na primeira legislação de zoneamento da cidade (7805/72, 8001/73) e subsequentes. O enfoque ainda era implantar na cidade vias de circulação, dotando a mesma de duplicação de faixas em algumas avenidas; passarelas de pedestres; ampliação de praças pavimentadas; corredores de uso especial; viadutos e a recuperação de algumas áreas degradadas devido à implantação do metrô, como o Largo São Bento. São desse período diversas obras que alteraram a configuração da região da Sé.

Entre 1975/79, ocupou o cargo de prefeito Olavo E. Setúbal e as obras continuaram a privilegiar o escoamento do trânsito caótico da cidade. A cidade continuava demandando vias de escoamento de tráfego intenso e as ações foram: Código de Obras da Prefeitura de São Paulo (1975), Lei 8.328/75 para proteção dos imóveis e logradouros considerados de importância para a memória cultural da cidade; ‘Ação Centro’ que consistiu em dar prioridade aos pedestres e como consequência a criação de ‘calçadões’.

No período compreendido entre 1970 e 1980, ocorre uma intensificação no processo de "desindustrialização" da área central, ocasionado por variados fatores locacionais e econômicos (preço do solo, restrições da legislação metropolitana, capacidade de organização sindical, incentivos fiscais, etc.). Na cidade pode-se perceber um parque industrial polarizado entre dois perfis distintos: de um lado, estabelecimentos industriais antigos, sobretudo os da antiga indústria de bens de consumo, e de outro, os segmentos industriais mais novos – setor elétrico e de telecomunicação – em que predominam plantas menores, com maior requisito tecnológico, baixo impacto ambiental e maior capacitação da mão-de-obra. Sobre o lazer de seus habitantes nada é destacado na esfera pública, exceto os direitos abstratos constantes nas leis maiores.

Novos lazeres, novos equipamentos

Apesar do vertiginoso crescimento da cidade, a mesma contava com apenas quatro parques: Luz (1825), Tenente Siqueira Campos5 (1892), Aclimação (1938), Ibirapuera (1954) num total de 233,25 ha para atender a uma população que, em 1960 era de

3.781.446 pessoas, em 1970 atingiu a marca de 5.885.475 pessoas, ou seja, um crescimento de 64,25%6; o que significaria 0,61 cm²/pessoa em 1960 e 0,39 cm²/pessoa, em 1970.

No período de 1970 a 1980, a expansão na criação de parques foi de quatro para 12, ou seja, em uma década foram criados oito parques: Alfredo Volpi (1971), Guarapiranga (1974), Carmo (1976), Anhanguera (1979), Burle Marx (1979), Vila dos Remédios

(1979), Previdência (1979), Nabuco (1980) e São Domingos (1980), - totalizando um incremento de 1.122,13 ha, para uma população de 8.475.380 pessoas em 1980, ou seja, 1,59 m²/pessoa. Esses índices estavam aquém do preconizado pela UNESCO

Moderna’ (1964-82) é possibilitada pela intervenção do Estado que modernizou e reciclou os serviços e equipamentos urbanos, acompanhada pela continuidade da intensa verticalização.

5 Entregue reformado em 1968 por ocasião das obras do MASP.

6 Disponível em: < http://www.seade.gov.br/produtos/500anos/consulta.php>. Acesso em: 04 set. 2010. , entidade para a qual todas as cidades devem oferecer 10,00 m² de área verde por habitante.

Nesse panorama era de se esperar que a atividade de lazer ‘ir ao parque’ reproduzisse o cotidiano caótico da cidade no decorrer da semana o que só seria minimizado nas décadas seguintes, mas ainda buscando diminuir a carência existente desde muito, sem atingir suas metas.

O período compreendido de 1960/80 trouxe inúmeras modificações acerca do comportamento do homem metropolitano e seus lazeres culturais.

Os fatores motivacionais do lazer, entendido dentro da teoria de Maslow, levavam ao atendimento, primeiramente, das necessidades fisiológicas e de segurança, relegando as práticas de lazer a planos menores. Soma-se a isso o fato de que nem sempre, após um dia exaustivo de trabalho e horas gastas em transportes públicos ou no carro, em congestionamentos, o homem terá algum motivo para querer se divertir. O que restava era o divertimento diário através dos meios de comunicação de massa e nos finais de semana a vivência em outros espaços para os lazeres.

A mídia já explorava as técnicas de projeção, identificação e empatia e como Morin (1977) analisa, a cultura de massa que levava o homem médio contemporâneo a adquirir algumas tendências/características em que o lazer funcionava como um escapismo existindo uma valorização constante da juventude e beleza, especialmente para a mulher, e o ‘final feliz’ proporcionando segurança, amor e felicidade.

Um aspecto deve ser levado em conta. Analisando os fatores sociológicos dessa época, podemos dizer que o trabalho continuava a ser fragmentado e que a tarefa, na maioria das vezes era maior que a capacidade de quem a executava, pois o maquinário continuava a ter sempre maior tecnologia e os tempos cotidianos ou eram regulados pelo ritmo das máquinas, ou eram consumidos pelos horários de entrada e saída no trabalho e pelo tráfego intenso da grande metrópole. Frente a tal situação o citadino acabava por estabelecer na maioria das vezes relações secundárias com quem convivia. Dentro de outro prisma de análise, os fatores psicológicos consequentes de tal rotina levavam o homem a um desejo maior de evasão da rotina e do stress de tais atividades, buscando relacionamentos espontâneos e o desejo de momentos livres.

No entanto, não podemos relegar a um plano inferior as questões culturais que, em muitos casos, acabavam adquirindo papel relevante. Os meios de comunicação de massa nas décadas de 1960 a 1980 atingiram milhares de telespectadores e com isso vimos a cultura do esporte ser apregoada, bem como a do prazer. Temas representados pelos comerciais e mensagens, apresentando-os como a aquisição de status perante o grupo.

No entanto, o lazer sob a ótica antropológica, significava liberdade de atividades que escapam às normas sociais em benefício às normas criadas pelo próprio indivíduo. O Tempo Livre seria essa liberdade que na vida moderna, urbana e industrializada, o legislador designava como devendo ser deferida a cada um para que pudesse entregar-se às atividades de sua livre escolha e, nesse sentido, o tempo liberado é individual.

Dentre as atividades de lazer das décadas de 1960 a 1980, algumas merecem um destaque especial como os museus e os centros culturais, gastronomia, eventos, discoteca e pontos de encontros, shopping centers e os parques de diversão.

Nas décadas de 1930 e 1940, ocorreu a criação da maioria dos museus brasileiros. Mas foi em 1968 que surgiu um ícone na cidade de São Paulo o MASP – Museu de Arte de São Paulo, idealizado por Assis Châteaubriant e concretizado na obra de Lina Bo Bardi, tendo sempre um endereço nobre – a Av. Paulista. Seu projeto possuía algumas limitações, pois era necessário conservar a vista do boulevard do Trianon. Desse modo,

o projeto acabou por ser o maior vão livre da América Latina da época – 80 metros, e inaugurou uma nova forma de expor a obra de arte.

Felizmente, os museus evoluíram de uma característica meramente depositária e conservadora, em que as obras em si eram o mais importante, para um equipamento urbano cultural orientado ao público. Seu objetivo passou a ser: manter uma obra e, ao mesmo tempo, criar as condições para que essa obra entre no circuito da cultura. Nas décadas de 1970/80 a maioria de suas verbas estava ligada ao “atendimento ao público e à comunidade” e aos “serviços educacionais”.

Temos ainda as bibliotecas, idealizadas atualmente como um centro cultural ou um espaço que não privilegia mais o livro como objeto de uma coleção, dele fazendo um precioso instrumento de cultura, ao lado do disco, do CDROM, do vídeo, da obra de arte plástica etc. Já os centros culturais visavam a proporcionar à população atividades artísticas, culturais e recreativas. Inaugurado em 1980, o Centro Cultural do Jabaquara, antes do Centro Cultural São Paulo (1982), na área do Sítio da Ressaca, propôs-se a trabalhar com diferentes linguagens e dentro de diversas plataformas artísticas, como biblioteca, espaço para exposições, apresentações de teatro, dança, capoeira e música, procurando o envolvimento da população local e até mesmo da mais distante. Os Centros Culturais foram projetados pela Secretaria Municipal da Cultura, visando a atender às classes menos favorecidas nos seus lazeres.

Inaugurado em 1970, e direcionado a um público diferenciado de profissionais foi criado o Paço das Artes, na Cidade Universitária. Pensado como uma grande galeria de arte multidisciplinar, o espaço promovia e promove exposições e publicações na área.

Concomitantemente, o desenvolvimento tecnológico possibilitava o lançamento de diversos aparatos para a liberação de afazeres até então cotidianos e que tomavam tempo, especialmente da mulher, como a máquina de lavar louças, o forno de micro- ondas, que vêm se agregar aos eletrodomésticos já conhecidos.

Sonhávamos com a ‘Era dos Lazeres’.

Com o aumento do tempo livre no final dos anos 1980, dentre diferentes atividades praticadas no urbano, o citadino vê a possibilidade de direcionar este tempo à gastronomia. Através de tours gastronômicos, degustação de vinhos e outras bebidas, visitas a mercados e feiras, criação de confrarias e associações gastronômicas e o desenvolvimento da leitura e aquisição de obras ou publicações sobre o assunto. Paralelamente o país entrava na era do ‘fast-food’ com a inauguração do primeiro McDonald’s em São Paulo (1980), na Av. Paulista.

No entanto, São Paulo iniciaria em 1970 uma vocação ímpar. Os eventos são importantes na vida humana, pois marcam momentos memoráveis, previsíveis e imprevisíveis. Com a inauguração do Pavilhão de Exposições do Parque do Anhembi, a cidade se tornaria sede de grandes eventos a partir de então. Os eventos que até então eram realizados nas instalações do Parque do Ibirapuera, passam a ocupar as novas instalações do Anhembi.

Nesse ano, 1970, em que a Seleção Brasileira de Futebol conquistou a sua terceira Copa do Mundo, o 7º Salão do Automóvel realizou-se no Parque de Exposições do Anhembi. Dos ‘bailinhos’ de garagem e das ‘domingueiras no clube’, a população de jovens da década de 1970/80 passa a contar com as discotecas como alternativa para seus lazeres. Com a mudança dos ritmos musicais e o lançamento em 1977 do filme ‘Saturday Night Fever’ embalado pela música dos Bee Gees, a dança tomava outros rumos e os espaços de diversão também. Em São Paulo, a Discoteca Papagaios, localizada na Av. Faria Lima tornou-se a ‘coqueluche’ da cidade. A TV Globo lançou a telenovela ‘Dancing Days’, um dos maiores sucessos da emissora, lançadora não só da febre das danceterias como de moda. Muitos pontos de encontro dos jovens, que até então estavam

localizados na Rua Augusta, mudam de endereço devido a obras de duplicação da Avenida Paulista. Além da Faria Lima, a Avenida Ibirapuera adquire outro status. A inauguração do Shopping Ibirapuera em 1976 muda seu perfil. Ao longo da avenida instalaram-se casas noturnas, especialmente ligadas à música popular brasileira, ao samba particularmente. Até o início dos anos noventa, a avenida foi ‘point’ da juventude apreciadora dos ritmos brasileiros para dançar.

Numa vida entremeada de atividades de lazer e de estudos, os jovens divertiam-se também nos clubes que ofereciam uma gama de atividades esportivas e sociais, além das discotecas e pontos de paquera. O automóvel, particularmente para a classe média alta, era o elemento primordial de circulação, possibilitador de encontros e emprestava ao seu proprietário status especial.

As décadas de 1950 e 1960 trouxeram mudanças radicais no setor econômico pelo início da produção de bens duráveis de consumo e o aumento de importações e, os Shoppings Centers surgem para atender ao comércio emergente. Os primeiros Shoppings Centers da cidade de São Paulo foram o ‘Conjunto Nacional’, na Av. Paulista (1956) e o ‘Grandes Galerias’ (1963) hoje conhecido como Galeria do Rock, na Av. São João.

Esses novos espaços, predominantemente comerciais, trouxeram também novos hábitos de lazer à população que os frequentava. Praças de alimentação, cinemas, pistas de patinação, diversões eletrônicas levam seus frequentadores a novos hábitos de consumo seja nos produtos, seja nos lazeres substituindo, às vezes, até o clube. Frequentar Shopping Center tornou-se um hábito persistente para o paulistano.

O primeiro Shopping Center construído em São Paulo, nos moldes de uma edificação direcionada exclusivamente para as compras, foi o Shopping Iguatemi, inaugurado em 1966, seguido do Center Lapa (1968), Continental (1975), Top Center (1975) e

Ibirapuera (1976).

A partir da década de 1960, com a disseminação do uso do automóvel, o centro da cidade perdeu seu papel de centralizador do comércio. Este se pulverizava e reorganizava o espaço da cidade em centros especializados de compras, de decisão e financeiros. A cidade marcada principalmente pelo automóvel e ligada pelas diversas artérias implantadas possibilitava a seus habitantes a oportunidade de selecionarem o espaço em função de seus hábitos e desejos, mudando de certa forma as antigas relações sociais que se estabeleciam no cotidiano. Foi o princípio do anonimato na grande urbe. Ainda dentro deste processo de crescimento da cidade e modernização dos espaços e equipamentos é que na década de 1970, São Paulo inaugurava seu primeiro parque de diversões fixo: o Playcenter.

Apesar de os parques de diversão que oferecem fortes emoções através de seus brinquedos, existirem desde 1940, o primeiro grande parque de diversão fixo, em São Paulo, foi instalado na Marginal do Tietê em 1972. Este equipamento oportunizou uma nova forma de diversão abrindo as portas para uma nova era do entretenimento paulistano. Seus usuários podem gastar seu tempo livre, mediante pagamento, em brinquedos eletrônicos que utilizam tecnologia de ponta, buscando similaridade com os parques temáticos comuns em outros países. Contemporâneos do Playcenter surgem a Cidade da Criança (1968), em São Bernardo, na Grande São Paulo. Esses estabelecimentos comerciais destinados exclusivamente ao lazer da população passaram a atrair um público de outros estados, dada à escassez de parques significativos em outras áreas metropolitanas.

Rumo à virtualidade

O período das décadas de 1960 a 1980 experimentou um grande salto nas inovações resultantes do grande desenvolvimento científico e tecnológico. Em 1969, o homem

pousa na Lua, equipamentos dos mais sofisticados permitiram que o mundo todo assistisse ‘on time’ a grande façanha americana. Em 1972, surge a Internet e a realidade virtual é apresentada ao mundo. O computador inicia sua caminhada para se tornar um equipamento trivial no ‘mundo novo’ que se aproximava. A partir de 1977, o micro computador torna-se um objeto tão inserido no cotidiano quanto uma máquina de lavar roupa e ao lado da televisão, na sala de visitas.

Tais elementos modificaram o tempo e seu uso pelo homem e trouxeram profundas influências em seus lazeres e rumo à era da virtualidade.

Bibliografia

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