Tema Geral: Tempos e Escalas da Cidade e do Urbanismo

A História é narrativa, por meio da qual se apreende a noção temporal. A construção narrativa opõe duas temporalidades, o tempo vivido e o tempo lógico da disciplina. Na tensão entre as duas, encontra-se uma História aberta à ação humana que, independentemente de sua duração, estimule, particularmente no âmbito deste seminário, pensar o urbano. Quanto ao uso da palavra escala, ela pode se referir seja a relações de proporção e dimensão, seja a pontos de vista na apreensão do real. No âmbito da história da cidade e do urbanismo, o termo sugere pelo menos duas escolhas. A primeira se relaciona ao recorte da pesquisa, o que requer posturas epistemológicas e recursos metodológicos a ele apropriados. A segunda concerne às apreensões multifacetadas do objeto historiográfico, que podem ser reforçadas pelo recurso às trocas disciplinares. A euforia inicial dos debates sobre a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade deu lugar a posições mais prudentes que, na esfera da história urbana, permitem considerar as especificidades de seus saberes e métodos sem, contudo, se furtar a aportes oriundos de outras disciplinas, de modo a construir seus objetos de pesquisa de maneira mais complexa. A partir das considerações feitas, propõem-se reflexões que abarquem tanto o imaginado quanto o edificado no curso do tempo. As sessões temáticas propostas visam a cingir diversas pesquisas e ao mesmo tempo delimitar possíveis âmbitos de interlocução entre elas, dando continuidade aos propósitos que fundamentaram a criação do Seminário de História da Cidade e do Urbanismo.

Áreas Temáticas

As sessões temáticas se articulam em torno de dois eixos conceituais: o primeiro se estende da esfera do cidadão à do profissional, e o segundo abarca desde a escala do espaço imediatamente vivenciado até a do território. Na matriz formada por esses dois eixos, tem-se a primeira escala abordando a apropriação histórica do território. A segunda escala considera as representações sociais e historiográficas da cidade em todas as suas dimensões. A terceira, a do cotidiano, encontra-se na interseção do indivíduo com a dimensão menor do espaço urbano ao longo do tempo. A última escala, por sua vez, concentra-se no olhar do profissional sobre a cidade, considerando também a historicidade desse personagem.

Território

Nesta sessão temática entende-se o território como noção fundamental, considerado não tanto como uma escala dimensional determinada mas como termo polissêmico que articula relações entre espaços, políticas e identidades. O território envolve apropriação de espaços para estabelecer efetivo domínio, mas também pode se referenciar numa construção simbólica, expressiva de um determinado imaginário temporalmente localizado. Aqui se incluem os trabalhos que discutam os significados do território e os processos sociais e práticas que levam à sua criação, ocupação e transformação.

Representações

As representações, como formas de apreensão do mundo, contrapõem diferentes percepções do real. Podem ser instrumentos de persuasão, de afirmação de valores compartilhados, como também do exercício do poder. Tornam o ausente presente e operam no âmbito das correspondências simbólicas. As representações se relacionam tanto ao individual quanto ao coletivo, expressando identidades e reconhecimentos. Por isso, sobre elas não há consenso, e nem são fáceis de decifrar. No jogo de tensões entre representações diversas se instalam resistências e se realizam sublevações. Esta sessão pretende reunir estudos dedicados a representações da cidade e do urbano, compreendendo pesquisas sobre iconografia, literatura, cartografia, rituais, patrimônio histórico, e mais quaisquer objetos que possam ser analisados sob a ótica das representações.

Cotidiano

Os protagonistas da escala do cotidiano são as pessoas em sua errância pela cidade, que a elas pode se apresentar como fragmentos consequentes de sua prática diária e são passíveis de serem organizados em relatos coerentes e inteligíveis. A sua perspectiva é a de quem vivencia o espaço citadino a partir de certas táticas, convertendo-se em um potencial agente de sua transformação. Suas memórias e vivências permitem perceber a cidade numa escala própria, diferente daquela do especialista, e revelam astúcias milenares de sua apropriação e significação. A esta seção interessam os trabalhos que tenham por foco a cidade e seus habitantes no percurso histórico, com atenção, por exemplo, às práticas e sociabilidades, aos espaços públicos e suas configurações.

Discurso Profissional

Ao longo do último século, afirmaram-se esferas de competência de urbanistas, planejadores, e outros atores. Todavia, o estabelecimento do discurso profissional com respeito à cidade é ancestral. Por discurso entende-se, aqui, todo tipo de produção de conhecimento, seja ele analítico ou propositivo, na forma de textos, projetos, planos, entre outros. A autoridade atribuída a esses discursos se ampara ora em regulamentações legais, ora no capital simbólico. Nesta sessão cabem trabalhos abordando o papel do profissional na produção do espaço urbano, bem como naquela das narrativas a respeito deste.