Resumo

Este artigo aborda o fenômeno da gentrificação na cidade contemporânea como um processo de transformação na estrutura sócio-espacial, com ênfase nas mudanças que afetam a vida cotidiana. Por meio do estudo de Vila Planalto, propõe-se a hipótese de que a gentrificação não só representa a transformação no nível de renda e o deslocamento da população pobre de um bairro, como também produz uma ruptura no modo de vida cotidiano. Este trabalho se inicia com a revisão dos autores Humberto Giannini e Michel de Certeau, que em suas obras definem o conceito de cotidiano. Além da base teórica, propõe-se uma abordagem etnográfica através de observações no espaço público e entrevistas a residentes antigos e recentes do bairro. O objetivo é refletir sobre a ruptura, no cotidiano da Vila Planalto, provocada pelas rotinas dos novos habitantes, o que poderia mudar a noção fundadora do bairro e sua organização social, fenômeno que acompanha o processo de gentrificação. Constatou-se que as relações entre os moradores mais antigos do bairro e os novos residentes são quase inexistentes, da mesma forma como seus modos de vida parecem não interatuar no espaço público. Entretanto, alguns espaços significativos na prática cultural são reconhecidos, como o Armazém do Geraldo, lugar onde coincidem as trajetórias individuais e são atendidas as necessidades cotidianas de diversos habitantes.

Palavras-chave: Vida cotidiana, Gentrificação, Bairro, Vila Planalto, Brasília

Abstract

This article discusses the phenomenon of gentrification in the contemporary city as a process of transformation in the socio-spatial structure, with emphasis on changes that affect everyday life. With the study of Vila Planalto, we propose the hypothesis that gentrification is not only transforming the income level and the displacement of the poor population of a district, but also produces a rupture in everyday life. This paper begins with a review of the authors Humberto Giannini and Michel de Certeau, who define the concept of everyday life. Besides the theoretical basis, we propose an approach through ethnographic observations and interviews in public space to new and old residents of the neighborhood. The aim is to reflect on the interruption in the routine of Vila Planalto caused by the routines of the new inhabitants that could change the founding notion of the neighborhood and the social organization phenomenon that follows the process of gentrification. It was found that the relationship between the older residents and the new residents are almost nonexistent, just as their ways of life do not seem to interact in the public space. However, some significant gaps in cultural practice are recognized, as the Armazém do Geraldo, where individual trajectories coincide and are met the daily needs of many people.

Keywords: Everyday life, Gentrification, Neighborhood, Vila Planalto, Brasília

Introdução

Nesta pesquisa, analisaremos o conceito de gentrificação e as mudanças provocadas no dia a dia da população em um caso de estudo situado em Brasília: a Vila Planalto. Localizada a 1.500 m da Praça dos Três Poderes, a Vila Planalto foi um antigo acampamento de obras que abrigou operários, engenheiros, empresários da construção de Brasília e políticos que passaram esporadicamente pelo lugar até a inauguração da nova capital. Na atualidade, é um bairro que resulta da união de remanescentes de quatro acampamentos de empreiteiras que construíram obras como o Palácio da Alvorada, a Praça dos Três Poderes e o Palácio do Planalto.

Fatores como o tombamento (conjunto de leis que protege algumas características físicas), o estado da propriedade do solo (impossibilidade de venda formal), as restrições impostas pela “força da arquitetura” (HOLANDA, 2013), bem como certos mecanismos utilizados pelos habitantes para permanecer em seu espaço (ZARUR, 1991), representam, até certo ponto, um freio aos processos de substituição dos habitantes. Ainda assim, e apesar de coexistirem, lado a lado, barracos e mansões, a cada dia o bairro vai se modificando e tornando-se um setor de classe média. Essas características não impedem algumas transformações edilícias e a alternância de usos e de usuários, fato que poderia ser entendido como uma forma de gentrificação.

Atualmente, existe ampla oferta de aluguéis de apartamentos e kitchenettes, assim como venda de lotes e casas que atraem uma nova população para o bairro, portadoras de histórias, experiências e cotidianos diferentes. Também, está em andamento a regularização dos lotes (entrega das escrituras), que serão entregues por doação (para pioneiros e filhos de pioneiros que habitam desde pouco depois da construção de Brasília), por venda direta e por licitação (para outros residentes). Ante este processo, visualiza-se uma nova fase de potenciais transformações na configuração espacial, mudanças na estrutura socioeconômica presente no bairro e no modo de vida de seus habitantes. O fim da impossibilidade de venda formal dos lotes e consequente abertura à comercialização poderia produzir a troca da população mais pobre por outra de maior renda.

O lugar tem grande diversidade urbana, com lotes, casas, quarteirões, ruas e espaços públicos que variam em dimensões, formas, características e usos. Existem lotes maiores, que permitem a construção de garagens ou adaptações nas vivendas, respondendo às expectativas da classe média, mas esses lotes não são a maioria. A grande diversidade espacial se relaciona com uma grande diversidade social. Segundo Holanda (2013), cinco décadas depois de inaugurada a cidade, forças de mercado não foram capazes de expulsar moradores de baixo poder aquisitivo, pelo contrário: trabalhadores manuais continuam a adquirir residências e se mudar para o local. Ainda assim, o caráter pitoresco e a localização da Vila têm provocado a substituição de alguns moradores, que alugam suas vivendas ou vendem o direito de uso. A impossibilidade de os moradores receberem títulos de domínio não foi totalmente uma barreira para a compra e venda de terrenos. Devido à proximidade com o plano piloto, existe um valor elevado de venda e aluguel das propriedades, e isso tem feito com que muitos habitantes originais emigrem, vendendo ou alugando suas casas.

Analisam-se aspectos específicos sobre as mudanças do cotidiano como parte do processo de transformação urbana do setor. O trabalho se concentra nas relações da sociedade em seu espaço, especificamente na relação entre o cotidiano dos moradores

antigos e o dos novos moradores e suas formas de ocupação do espaço público. Para entender se o processo de gentrificação no bairro é acompanhado por uma mudança no cotidiano dos habitantes elaboram-se questões que orientam a análise. As questões motivadoras são: a gentrificação acarreta a ruptura na vida cotidiana do bairro? A gentrificação na Vila Planalto implicou a substituição do cotidiano da população de menor renda pelo cotidiano de uma população com maior poder aquisitivo? O cotidiano dos novos moradores contrasta com o cotidiano dos residentes mais antigos? A gentrificação no bairro representa uma transformação no modo de vida?

Para o desenvolvimento deste trabalho partimos da premissa de que existe um processo de gentrificação na Vila Planalto. Em segundo lugar, propõe-se que esse processo de gentrificação é acompanhado por uma mudança no cotidiano dos habitantes do bairro, ou seja, o modo de vidas dos moradores originais ou mais antigos está sendo substituído pelo cotidiano dos novos moradores ou sujeito gentrificador. Essas mudanças na forma em que os residentes se identificam e utilizam o espaço são relevantes para as transformações urbanas do local e podem provocar a perda da noção fundadora do bairro.

Esta pesquisa tem por objeto de análise o processo de gentrificação e as mudanças do cotidiano por meio de um estudo a escala de bairro. O objetivo geral é aprofundar o estudo dos processos de gentrificação e sua relação com as mudanças no cotidiano de um bairro, por meio da pesquisa de um caso emblemático que resiste por mais de cinquenta e oito anos. Por meio da problematização e da análise do desenvolvimento urbano, bem como do contraste entre as vidas cotidianas de moradores antigos e mais recentes da Vila Planalto, este trabalho pretende contribuir para o entendimento do bairro, com um olhar para o espaço desde o prisma da sociedade.

Caminhos e Conceitos

O método determinado desta investigação descreve um caminho que é a própria busca pelos princípios formadores da base do objeto de estudo, o cotidiano. Assim, a rua como meio e limite da circulação diária representa nosso espaço de estudo: através dela pretende-se chegar ao cerne do cotidiano. O espaço é visto desde a perspectiva da sociedade, ou seja, o fenômeno espacial é interpretado por suas características sociais.

Pretendemos adotar um olhar preocupado com o cotidiano dos residentes, que vivenciam o espaço urbano do bairro. Essa postura tem o fim de determinar uma dimensão da gentrificação, a saber, a dimensão representada pela substituição do cotidiano dos moradores originais pelo cotidiano dos novos moradores, o que poderia modificar a noção fundadora, os significados e os valores desse espaço.

A pesquisa trata as transformações do cotidiano da Vila Planalto e indaga sobre certos movimentos dos moradores do bairro que demonstram as trajetórias individuais, formadoras da experiência comum. Nosso objeto de estudo são as condutas que se produzem no espaço público, o que Giannini (2013) denomina como espaço civil. O lugar de observação é o espaço civil, configurado pelas relações entre os indivíduos e pelo espaço de referência de toda conduta ao interior do bairro.

Em termos metodológicos, para dar suporte ao argumento deste artigo, realizou-se uma pesquisa de campo, com ênfase em uma etnografia do espaço público da Vila Planalto: observação direta, por um tempo limitado no espaço aberto do bairro. A

observação direta foi feita a partir de uma participação espontânea e delimitada no tempo nas ruas do bairro. A partir dessa observação, os modos de vida social e os movimentos das pessoas foram sendo registrados. (BARRAL, 2012)

Escolheu-se a pesquisa etnográfica por ser um método de investigação em que se apreende o modo de vida de uma unidade social específica, por meio da observação direta e da realização de entrevistas. A etnografia é um processo sistemático de aproximação a uma situação social, estudada em seu próprio contexto, que se interessa pelo que as pessoas fazem, como se comportam e como interatuam, para entender seus valores, motivações e intenções (BREU et al., 2008).

Em terreno, foram feitas observações e realizaram-se marcações em uma planta do bairro. Também se realizaram gravações de treze entrevistas anônimas a residentes, a modo de conversações informais, com base em doze perguntas semiestruturadas, as quais depois foram transcritas e estudadas. As entrevistas foram desenvolvidas no espaço público, principalmente nas ruas, praças e bares do bairro. Como a investigação indaga sobre as transformações e as diferenças do cotidiano entre os habitantes da Vila Planalto, as perguntas foram feitas em lugares que representam o símbolo do passar cotidiano dos moradores.

Para a seleção dos locais de conversação, consideramos as observações feitas anteriormente, assim como a quantidade do público frequentador, o movimento das pessoas, e privilegiaram-se os espaços abertos de livre trânsito. Selecionamos as respostas de seis moradores antigos (residentes há mais de dez anos) e de quatro moradores recentes (residentes há menos de dois anos).

No âmbito da indagação cotidiana as perguntas realizadas aos moradores foram as seguintes: 1) Você mora na Vila Planalto há quantos anos? 2) Onde você morou anteriormente? 3) Você é proprietária, aluga ou mora com algum familiar? 4) Além da sua casa, qual é o lugar que você mais frequenta dentro da Vila? 5) Existe alguma loja ou bar (armazém, padaria, lanchonete etc.) dentro do bairro aonde você vá com frequência? 6) Como é seu cotidiano, seu dia a dia, poderia descrever as atividades que realiza durante um dia normal de segunda a sexta-feira, como é seu itinerário? 7) E os domingos, o que você costuma fazer? 8) A que lugares você gosta de ir a passeio ou para se divertir, dentro ou fora da Vila? 9) Que é o que mais gosta e que menos gosta da Vila Planalto? 10) Como é sua relação com os vizinhos? 11) O que pensa em relação a como era a Vila quando chegou, e como ela é agora, e como você a imagina no futuro? 12) Você está sabendo sobre o processo de regularização fundiária (entrega das escrituras dos lotes)? Pensa que quando os moradores recebam os títulos de domínios dos lotes podem ocorrer mudanças na Vila ou com os residentes?

Devido às limitações do trabalho, estudamos o cotidiano com base nas entrevistas e nos comportamentos das pessoas entrevistas, procurando entender o fenômeno por meio de uma aproximação ao método etnográfico, com foco na topografia, no espaço. Tenta-se reconstruir o traçado ideal, esquemático, do percorrido habitual da vida cotidiana dos moradores da Vila Planalto de forma puramente qualitativa.

Conceito de Gentrificação

O termo gentrificação foi usado pela primeira vez por Ruth Glass, em 1964, para descrever o processo social que acompanhava a reabilitação de zonas habitacionais

obreiras abandonadas ou subutilizadas em bairros londrinos e sua posterior transformação em bairros de classe média. A citação seguinte corresponde à clássica definição da socióloga.

Um por um, grande parte dos bairros da classe trabalhadora de Londres tem sido invadida pelas classes medias – altas e baixas. As degradadas e modestas ruas rodeadas por antigos estábulos, convertidos em moradias, e as casinhas – duas habitações para cima e duas embaixo – foram substituídas quando acabaram os contratos de aluguel por elegantes e custosas residências. Quando este processo de “gentrificação” começa em um bairro, avança rapidamente até que todos ou a maioria dos ocupantes iniciais, membros da classe trabalhadora, são deslocados, assim se modifica o caráter social do bairro. (GLASS, 1964, p.18)

Gentrificação (enobrecimento ou elitização) diz respeito às distintas dimensões de uma transformação socioeconômica urbana que, além das mudanças físicas produzidas, pode gerar mudanças na estrutura social, do emprego, assim como mudanças na prestação de serviços nas áreas afetadas. Para Clark (2005), a gentrificação é uma mudança na população de usuários de um solo, em que uma classe socioeconômica superior substitui os usuários anteriores. Isto ocorre juntamente com transformações no ambiente construído.

Para a autora Loretta Lees (2008) a gentrificação está profundamente arraigada na dinâmica social e nas tendências econômicas. Suas características, efeitos e trajetórias são determinados por diversos motivos, como o contexto local, a configuração física, as características sociais dos bairros, as posições e os objetivos dos atores locais, as funções de dominação da cidade, a natureza da reestruturação econômica e a política do governo local, entre outras. Assim, a gentrificação se converteu em um tema importante, composta por uma variedade de fenômenos interessantes de ser examinados em uma cidade e principalmente no contexto de bairros.

Segundo explica Bidou-Zachariasen (2006), para vários autores o fenômeno da gentrificação poderia se produzir sob o alcance de dois processos. O primeiro, pela demanda de setores de renda média da população com estratégias de retornar ao centro, depois de haver habitado conjuntos e loteamentos fechados nas periferias, principalmente em ondas estimuladas pelo setor imobiliário. O segundo, pela oferta e pelas decisões dos produtores de espaços, que tentam criar, nos centros, atrativos para as altas rendas.

Para Smith (2006), a gentrificação é um elemento fundamental na regeneração ou renovação urbana, representando uma estratégia global nos diferentes centros urbanos. Isto se deve à aceitação do desenvolvimento imobiliário como o eixo central da expansão econômica da cidade, provocado pela vitória das políticas neoliberais. Dentro do discurso da reabilitação defendido pelos negócios imobiliários encontram- se diversas motivações, como a requalificação de áreas degradadas, o repovoamento dessas áreas, e projetos que aproveitam terrenos públicos para investimentos privados.

Atualmente a gentrificação se desenvolve como uma forma de produção do espaço. Ela deixou de ser uma particularidade do mercado imobiliário para incorporar uma

ampla renovação, econômica, social e política do espaço urbano nos lugares que intervém. Essa renovação está associada às transformações da paisagem física, da estrutura do emprego e do consumo e bem como das transformações nos modos de vidas, perspectiva que queremos abordar neste trabalho.

O sujeito gentrificador ou colonizador permite que novos habitantes sigam o fluxo para o bairro, permitindo que as empresas promotoras e seus intermediários possam produzir seus lucros. Com sua presença, é o encarregado de mudar a composição social do bairro. Em certas ocasiones pode ser visto como um precursor que se arrisca sozinho com uma pequena poupança para converter um bairro pouco desejado e em deterioro em um melhor lugar pra viver. Na sociedade contemporânea o gentrificador se relacionar com as “novas classes médias”, podendo ser um funcionário técnico ou Profissional, em família ou solteiro (SASSEN, 1998; DÍAZ PARRA, 2004).

Conceito de cotidiano

Uma pergunta como “o que é a vida cotidiana?”, que parece tão simples e é respondida por diferentes cientistas sociais, tem sido pouco explorada na área da arquitetura e do urbanismo. Parece-nos relevante introduzir o conceito no estudo das transformações de um bairro, para incorporar outra dimensão à caracterização da sociedade em relação a seu espaço habitado.

Humberto Giannini, filósofo chileno, em seu livro La “reflexión” cotidiana, apresenta o cotidiano como um conceito amplo, adotando uma perspectiva analítica. Ele observa que o cotidiano está presente em todos os aspectos da vida em sociedade: na rua, no trabalho, na escola, no domicílio etc., incorporando uma dimensão temporal e espacial, o que nos interessa explorar neste ensaio.

Em palavras simples, o cotidiano é aquilo que acontece todos os dias. É justamente o que acontece quando nada acontece (GIANNINI, 2013). Poderíamos definir-lhe como as ações diárias que constituem uma rotina. Para Giannini, o cotidiano é uma categoria, “um modo de ser de um ser que, vivendo, se repete silenciosamente y cada dia se aprofunda em si mesmo” (GIANNINI, 2013, p.29).

Segundo Giannini (2013), o sentido do cotidiano não está relacionado somente com a rotina, mas também com a transgressão. A rotina é importante na vida cotidiana, pois estabelece o necessário para a continuidade e a construção da identidade individual e coletiva das pessoas. Ademais, é indispensável para a geração das relações sociais. Enquanto a transgressão tem a função da detenção e interrupção do trajeto por meio da comunicação.

O círculo da vida cotidiana começa no domicílio, lugar da habitação, segue pela rua para o trabalho, lugar dos afazeres, para voltar pela rua ao domicílio novamente. O domicílio, a casa, representa o espaço privado que nos separa do mundo público, transformando-se em um regresso a si, como um símbolo da singularidade, ao contrário da rua, que é símbolo da universalidade. Fora do domicílio começa o espaço público, a vizinhança, o bairro, até perder-se no anonimato da cidade.

Nós, por exemplo, passamos pela rua: não somos nela, transitamos, somo trans-euntes em direção a territórios que uma topografia da vida cotidiana vai determinar. E será feito

justamente a partir da constituição transitória da rua. (GIANNINI, 2013, p.32)

Essencialmente, a rua é o meio que faz possível a circulação, neste caso, do tempo cotidiano, por isso se relaciona com a rotina, ou rota, que vem de roda. E rua tem por função cotidiana comunicar extremos, dessa forma é um meio de comunicação cidadã, pois une os extremos da rota, mas também é um espaço de convergência e apertura para os transeuntes, constituindo lugar de encontros e desencontros. Isto ocorre porque a rua é um território aberto, onde o caminhante pode parar, distrair-se, desviar-se, perder-se etc., representa um espaço de todos e de ninguém. A rua iguala o habitante eliminando as hierarquias; todo transeunte está exposto ao fortuito, o que faz da rua um lugar perigoso, que nos pode tirar da rotina.

Giannini (2013) define o tempo civil como o tempo que regula o ciclo cotidiano do ócio e do neg-ócio. O tempo civil tem um correspondente espaço civil ou espaço público, que se relaciona com a função dos antigos campanários nas praças que indicavam os horários, organizando o tempo civil e seus fatos cotidianos. Sobre o espaço civil e a função da praça é importante destacar alguns conceitos que o autor sugere. A praça historicamente era um vazio, um amplo espaço aberto produzido pela abertura das ruas, onde a cidade se mostra; ela indica uma detenção no caminho. Também representa um lugar da comunicação, onde se conversa; a praça é o agora, o foro, a plateia, e o mercado, marcando outra topologia espacial do tempo civil, o espaço que permite o encontro cidadão, a praça é o tempo reflexivo da cidade.

Outra das pausas que encontramos na cidade é o bar, que configura uma transgressão na rotina, um espaço de conversação. Da mesma forma que a praça, o bar representa uma detenção do caminho, um desvio do trajeto, lugar de encontro com os amigos no caminho de regresso para intimidade domiciliar. Justamente em contraste com a transgressão do bar está o domicílio, que representa um momento reflexivo, um regresso a si, como o ponto que dá início a uma nova rotina.

Humberto Giannini resgata as relações espaciais entre os lugares topográficos do tempo circular civil que constroem a experiência comum, ressaltando a importância do domicílio, do trabalho, da rua, da praça e do bar, como os lugares de manutenção e transgressão da rotina cotidiana. Como veremos a continuação, Michel de Certeau (1996, 2008) identifica o bairro como o espaço social que reúne esses elementos do cotidiano. O bairro agrupa também o espaço e o tempo civil, destacando-se como o lugar da experiência comum, de comunicação e de comunidade.

Michel de Certeau, em seu livro A invenção do cotidiano, estuda os modos de vida na cidade, especificamente no bairro da Croix-Rousse em Lyon, com o objetivo de descobrir as práticas culturais dos usuários da cidade no espaço de seu bairro. Para isso, analizam-se duas problemáticas, primeiro, a sociologia urbana do bairro, e segundo, a análise sócio-etnográfica da vida cotidiana. Essas duas perspectivas se inserem no ambiente urbano do bairro, para evidenciar as práticas diárias dos moradores e investigar como se relacionam com o espaço público onde elas se desenvolvem. O autor estuda as relações entre objetos, especificamente “o vínculo que une o espaço privado ao espaço público” (CERTEAU et al., 2008, p.38). Para ele, essas relações entre objetos constituem uma das condições para a vida cotidiana no espaço urbano, conformando de maneira crucial a noção de bairro: em um bairro não existe o público sem o privado, são interdependentes.

O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia, nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. (...) O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio- caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada. (CERTEAU et al., 2008, p.31)

De Certeau (2008) organiza a vida cotidiana na articulação de dois aspectos. Por um lado, os comportamentos ou condutas, visíveis no espaço social da rua, através de códigos e ritmos próprios dos habitantes desse espaço, o que valoriza ou não aquele espaço público. Por outra parte, os benefícios simbólicos que se espera obter segundo a forma de comportamento no bairro. Esses significados simbólicos são interpretados pelo pesquisador por meio do sentido do discurso, no qual o usuário relata as iniciativas e intenções de suas ações.

Conceito de Bairro

Segundo De Certeau (2008), o bairro seria o lugar de manifestação do “engajamento” social, ou seja, a arte de conviver com os outros ligados pela proximidade topográfica e pela repetição de condutas. Esses dois elementos, proximidade e repetição, são regulados pelo contrato implícito da conveniência, que representa um compromisso pelo qual cada habitante contribui à vida coletiva, com o fim de manter seus benefícios simbólicos e manter a coexistência do bairro.

Essas relações de conveniência explicam o conceito de “prática cultural”, definido pela combinação de elementos cotidianos concretos ou ideológicos, que derivam de uma tradição social e que são exercidos dia a dia. A prática cultural representa um sistema de valores estruturantes que organiza a vida cotidiana, sendo decisiva para a identidade dos indivíduos e do grupo, enquanto que essa identidade permite a cada um assumir seu lugar dentro das relações sociais que acontecem em um ambiente determinado (CERTEAU et al., 2008).

O bairro compõe uma parcela do espaço urbano onde acontecem as práticas culturais; é o ambiente onde acontecem os fenômenos sociais que permitem aos indivíduos reconhecer-se. Portanto, é possível apreender o bairro como uma porção do espaço público e privado dentro da cidade, cenário de convivências e usos cotidianos. No espaço do bairro se organizam coletivamente trajetórias individuais e fica a disposição de seus usuários lugares que atendam às necessidades cotidianas (CERTEAU et al., 2008, p.46).

Para De Certeau (2008), entre as dimensões que definem um bairro estão suas características históricas, estéticas, topográficas, sócio-profissionais, entre outras. O autor se apoia na definição de Henri Lefebvre: “o bairro é uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o espaço quantificado“(CERTEAU et al., 2008, p.41). O domínio do bairro remete à noção do tempo e espaço por onde os usuários podem se deslocar a pé, em consequência, corresponderia a uma parte da cidade com limites definidos pelos vínculos significativos entre as residências e o espaço público onde se localizam.

O bairro é uma noção dinâmica, que necessita de uma progressiva aprendizagem, que vai progredindo mediante a

repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer aí uma apropriação. (CERTEAU, 2008, p.42)

O espaço do bairro representa uma continuidade entre a intimidade da residência e o anonimato da cidade, manifestando-se como uma prolongação da habitação. Podemos inferir das palavras do autor que o bairro é o resultado das relações entre os cheios (espaço privado) e vazios (espaço público) e seus habitantes, que outorgam significados e valores para aquela configuração a partir de suas trajetórias e práticas cotidianas no meio urbano. Aí se reúnem as condições que favorecem a convivência dos indivíduos e seu espaço: lugares, trajetos, relações de vizinhança, comércio etc., o que produz e organiza a sociedade tornando o espaço urbano um objeto não só de conhecimento, mas também um lugar de reconhecimento (CERTEAU et al., 2008).

A Vida Cotidiana da Vila Planalto

Nesta parte, analisamos o resultado do trabalho etnográfico, feito por meio de observações e entrevistas realizadas durante uma semana de visitas à Vila Planalto. A partir das visitas ao bairro foi possível observar um intenso movimento de pessoas no espaço público. Esse movimento concentra-se na Praça Nelson Corso, no acampamento Rabelo, lugar que reúne as famílias que moram há mais tempo na Vila. A Praça constitui um espaço vivo, intensamente utilizado nas tardes e nos fins de semana por pais que levam seus filhos para brincar, adultos que sentam para conversar, ou jovens e adolescentes. Durante o fim de semana de carnaval foi realizado um show ao vivo, evento que congregou grande número de pessoas de todas as idades.

Em frente à praça se encontra o “Armazém do Geraldo”, indicado pelos moradores com quem conversamos como o principal mercado para realizar as compras do dia a dia dentro do bairro. O armazém foi destacado por vários aspectos, como sua posição estratégica – localiza-se na parte central do bairro –, diversidade de preços e produtos, e como um ponto de referência no bairro. Os moradores mais antigos ressaltaram que conhecem o Geraldo há muitos anos e que o espaço se transformou em um lugar de encontro entre amigos. O Armazém do Geraldo existe desde 1957, representado a única loja de vendas do acampamento Rabelo durante a construção de Brasília. Como se observou nos depoimentos é dotado de grande valor simbólico dentro do bairro, sendo um ponto de encontro aprovado por pioneiros, moradores antigos e não tão antigos. Apesar de o Geraldo não trabalhar mais no mercado, devido à sua avançada idade, os fregueses continuam fiéis e se inserem no tecido relacional que acontece ali.

Outro extremo da Vila Planalto, localizado nos setores mais acessíveis, que melhor se conectam com o resto da cidade, é frequentado por outro tipo de pessoas. Especialmente nas proximidades à via L4, encontra-se forte concentração de restaurantes que atendem principalmente a usuários externos, ou seja, moradores de outros bairros que se deslocam de carro para a vila, gerando uma relação exclusivamente de consumo como o espaço. Esses restaurantes têm padrão e preços mais elevados, configurando em seu entorno um espaço elitizado, com movimento durante os horários de refeições, mas deserto em outros períodos do dia.

Muito próximo desses restaurantes, no acampamento DFL, encontra-se Igreja católica Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, que foi mencionada por vários dos moradores

como um dos lugares que mais frequentam. A Vila Planalto, segundo dados da SEDUMA-CODEPLAN (2009), registra 66,6% da população que se declara católica. Esse dado, que parece significativo, não se traduz em uma maior apropriação do espaço onde esta igreja se localiza. Quem assiste à missa vai exclusivamente à igreja nesses horários, sem produzir uma utilização da praça, apesar das boas condições em que se encontra devido a reformas recentes. O significado e o valor que parte da população atribui à Igreja não geram relações sociais de vizinhança, o que poderia ocorrer em razão da influência que o surgimento de um comércio destinado a usuários externos tem provocado em seu entorno.

Em relação aos cotidianos dos habitantes, informações obtidas a partir das entrevistas indicam uma diferencia notória entre as atividades desenvolvidas por moradores que residem na Vila Planalto há mais de 10 anos em comparação com quem chegou a morar há pouco tempo. Os moradores classificados como antigos têm uma idade avançada e correspondem, principalmente, a idosos ou aposentados, motivo pelo qual passam de segunda a sexta-feira dentro do bairro, realizando atividades em suas próprias casas. Aos domingos eles preferem sair da Vila: realizam visitas a filhos e netos que moram em outras áreas da cidade, passeiam pela orla do Lago Paranoá ou pelo Shopping Conjunto Nacional, ou frequentam o Clube Alexandrino, que fica perto do bairro.

Quem chegou para morar na Vila Planalto há pouco tempo são em geral jovens estudantes ou trabalhadores que escolheram o setor por causa da proximidade com o Plano Piloto de Brasília, da acessibilidade em termos de dinheiro, bem como por causa do ambiente comunitário e familiar que o bairro oferece. Como reconhecem os próprios moradores, os novos residentes têm um ritmo de vida mais acelerado, seu dia a dia transcorre entre a casa, o trabalho e a casa novamente. Alguns residentes que trabalham e estudam, utilizam os restaurantes do bairro para comer algo à noite, pois, por suas atividades, não têm tempo ou vontade de cozinhar. Aos domingos, os mais jovens permanecem no bairro, a diferença dos moradores antigos. Por causa da rotina corrida, muitos jovens preferem descansar e permanecem no bairro para organizar assuntos em suas casas ou saem para tomar uma cerveja nos bares do local. Foi interessante constatar como alguns moradores mais recentes deixaram seus apartamentos nas superquadras do Plano Piloto para alugar uma kitchenette na Vila Planalto. Segundo argumentam, isso não é por causa só dos preços mais accessíveis, também se deve ao caráter acolhedor da Vila em contraste com a indiferença das pessoas das asas Sul ou Norte; eles reconhecem uma diferença na comunicação social, o que podemos interpretar como uma maior possibilidade de transgressões do cotidiano (GIANNINI, 2013) ou desvios dos trajetos, devido à presença de barzinhos, praças, conversações com vizinhos etc., a Vila Planalto oferece maior possibilidade de encontros e desencontros para seus habitantes.

Dentro das conversações como os vizinhos perguntamos sobre as mudanças no bairro, acerca de como eles observaram as transformações físicas e sociais desde sua chegada até hoje e como visualizam o futuro em relação à regularização fundiária em andamento, que deveria entregar as escrituras aos moradores mais antigos. Todos os moradores com quem conversamos ressaltaram que a Vila mudou muito. Quem está no bairro há mais de 15 anos destaca que quando chegaram, como as casas eram de madeira, com tetos de zinco, as ruas eram de terra, não existiam as mansões de hoje, assim como a vida era mais parada, sem muitas atividades de lazer ou comércio, mas

as relações sociais eram mais próximas e de amizade, “todos se conheciam”, dizem. Em relação à população, eles indicam que muita gente foi embora, a maioria pioneiros que venderam seus lotes há 20 ou 30 anos. Ainda assim, reconhecem os novos moradores como “gente boa” e tranquila. Apenas uma pessoa mencionou que as mudanças foram para pior, a maioria vê as transformações no bairro como positivas, devido à chegada de infraestrutura, presença de negócios, a construção de condomínios de luxo na beira do Lago Paranoá e a chegada ao bairro de moradores com renda maior, o que para eles valorizou seu espaço.

A respeito da regularização fundiária, as opiniões sobre seus impactos são divididas. Apesar de que todos reconhecem que isto acarretará maior valorização dos imóveis, praticamente a metade não visualiza uma mudança na estrutura social da população. Segundo comentaram, já foram vendidos muitos lotes, então a maioria dos pioneiros saiu há muito tempo, esse processo começou há mais de 20 anos, mas desde cinco anos atrás, aproximadamente, começaram a chegar novos moradores que coincidiram com o aparecimento da oferta de apartamentos e kitchenettes para aluguel. Os moradores acham imperiosa a entrega dos títulos de domínio, considerada uma causa justa para quem mora há muito tempo, sendo uma necessidade para organizar a situação do bairro. Alguns vizinhos consideram que, com a escritura nas mãos, muitos começarão a vender seus lotes em razão da valorização imobiliária; para eles, se hoje as casas já se vendem a preços altos, com escritura esses preços serão ainda maiores, despertando o interesse de outros tipos de pessoas, talvez com nível de renda maior, o que poderia mudar o caráter do bairro, com a chegada de desconhecidos. Alguns moradores observam com temor que o bairro se transforme em um grande condomínio. Ao contrário, para quem chegou há 15 anos ou menos na Vila Planalto, principalmente funcionários públicos que poderíamos identificar como um sujeito gentrificador ou primeiro colonizador do bairro, a possibilidade de vinda de novos moradores com maior poder aquisitivo é positiva devido ao seu “melhor” padrão de vida, o que beneficiaria ao bairro como um todo.

Considerações Finais

Este artigo examinou o contraste entre a rotina dos moradores mais antigos do bairro

– que residem há mais de dez anos – e os novos moradores – que residem há cerca de dois anos. O estudo se concentra nas condutas dos habitantes do bairro em seu espaço público ou espaço civil (GIANNINI, 2013), para entender como a chegada de novos residentes e de atividades econômicas afeta o dia a dia do bairro.

O trabalho apresentou principalmente duas limitações metodológicas. A primeira se deve à falta de experiência no desenvolvimento da análise etnográfica por parte do pesquisador. Por esse motivo, o artigo se apresenta mais como uma exploração na aplicação de novas metodologias para o estudo da gentrificação e das transformações de um bairro no âmbito do urbanismo que como resultado final sobre o tema abordado. Em segundo lugar, dentro da investigação etnográfica é necessário realizar observações por um período de tempo prolongado, o que não foi possível neste trabalho, concentrando-nos no transcurso de uma semana.

Ainda assim, com a realização deste artigo, foi possível reconhecer alguns pontos importantes na vida diária da Vila Planalto. Observou-se que a informalidade é a principal característica da Vila Planalto desde sua fixação, expressada na fragmentação dos lotes, o surgimento de novos terrenos ocupados em áreas

irregulares, a verticalização das edificações e as consequentes perdas das características físicas que levaram o bairro a ser tombado. A fixação foi determinante para fazer da Vila Planalto um lugar mais desejado para morar, portanto significou o começo do processo gentrificação com a chegada de setores de classe média, principalmente funcionários públicos e profissionais.

Constatou-se que as relações entre os moradores mais antigos do bairro (pioneiros) e os novos residentes são quase inexistentes, da mesma forma como seus modos de vida parecem não se misturar no espaço civil (GIANNINI, 2013). Entretanto, alguns espaços significativos na prática cultural são reconhecidos, como o Armazém do Geraldo, lugar onde coincidem as trajetórias individuais e são atendidas as necessidades cotidianas (CERTEAU, 1996) dos mais diversos habitantes.

Observamos como os antigos residentes surgem de duas etapas diferentes na história do bairro. Os moradores originais correspondem aos pioneiros, presentes há mais de 50 anos, desde a época da construção da capital, conformados por trabalhadores da construção civil já aposentados ou de famílias que se transladaram desde a desaparecida Vila Amauri para a Vila Planalto. Outro grupo corresponde aos primeiros gentrificadores ou colonizadores do bairro, composto por funcionários dos serviços públicos ou profissionais de outras áreas que chegaram ao bairro há cerca de vinte atrás, após o tombamento: eles compraram lotes de pioneiros iniciando uma lenta vinda de outros habitantes de classe média ou média alta e a paulatina aparição de comércio e restaurantes orientados a uma população externa, elitizando, principalmente, os setores melhor conectados ao resto da cidade e mais acessíveis de carro.

Os novos moradores provêm de diversas classes sociais e de diferentes modos de vida. Por uma parte, se encontram imigrantes vindos do nordeste do Brasil ou de outros países, sendo estudantes e pessoas que trabalham no mesmo bairro. Por outro lado, setores mais populares que chegaram das cidades satélites para alugar informalmente nos fundos de lotes, contribuindo para a popularização da Vila.

Com base nos conceitos de gentrificação, cotidiano e bairro e por meio da observação direta e da realização de entrevistas foi possível avaliar qualitativamente o desenvolvimento urbano da Vila Planalto. Na tentativa de incorporar a dimensão do cotidiano no estudo das transformações socioeconômicas do bairro se confirma a hipótese da gentrificação no local, reforçada nos depoimentos dos moradores entrevistados. As referencias que Humberto Giannini (2013) faz sobre os aspectos espaciais e temporais do cotidiano são evidentes no caso de estudo: a rua, o trabalho, a praça e o bar constituem os lugares da experiência comum dos moradores. Esses espaços de rotina e transgressão das trajetórias individuais representam os lugares de engajamento social (CERTEAU, 1996) na Vila Planalto.

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