Resumo

O artigo pretende analisar as relações entre a dinâmica econômica e a urbanização na Metrópole cearense, especialmente aquelas relacionados à atividade industrial, as quais justificam, sobremaneira, o início do processo de metropolização e sua rápida expansão nas últimas décadas. Sabe-se que a redistribuição espacial das atividades econômicas e os movimentos populacionais delineiam, continuamente, reconfigurações no padrão de organização das cidades. No Brasil, de modo geral, esses fenômenos revelam claras diferenças com relação àqueles que tradicionalmente se observavam até meados da década de 1970. Resultam, sem dúvida, das novas dinâmicas em curso no contexto contemporâneo, como o aumento das economias regionais, a desconcentração industrial, o incremento das exportações, o melhor desempenho da agricultura, etc. Ocorreram, em consequência, impactos no território, que passam a gerar novas áreas de dinamismo econômico, evidenciando novos arranjos espaciais, diferentes daqueles verificados anteriormente, com modificações relevantes na urbanização. Pretende-se destacar, portanto, os reflexos da industrialização ocorridos na Região Metropolitana de Fortaleza - RMF, analisando as transformações recentes ocorridas e os novos padrões de urbanização emergentes, com base na análise histórica das sucessivas etapas de implantação da atividade industrial e como ela interfere na expansão recente da área metropolitana, ao longo dos eixos viários.

Palavras-chave: industrialização, urbanização, metropolização, Fortaleza.

Abstract

The article analyzes the relationship between urbanization and economic dynamics in Fortaleza- Ceará (Brazil), especially those related to industrial activity, which greatly justify the beginning of the process of metropolization and its rapid expansion in recent decades. It is known that the spatial redistribution of economic activities and population movements delineate, continually, reconfigurations in the city organization structures. In Brazil, in general, these phenomena reveal clear differences from those traditionally observed until the mid-1970s. It results, undoubtedly, from the new dynamics in progress at the contemporary context, as the increase of regional economies, industrial decentralization, export growth, the best performance of agriculture, etc. There was, therefore, impacts on the territory, which begin to generate new areas of economic dynamism, highlighting new spatial arrangements, different from those previously observed, causing significant changes in urbanization. Finally, the paper aims to highlight the consequences of industrialization occurring in the metropolitan region of Fortaleza - RMF, analyzing the recent changes that have occurred and new patterns of emergent urbanization based on historical analysis of the successive stages of implementation of industrial activity and how it interferes with recent expansion of the metropolitan area, along the road axes.

Keywords: industrialization, urbanization, metropolization, Fortaleza, Ceará, Brazil.

Introdução

O crescimento urbano e metropolitano de Fortaleza obedece predominantemente ao modelo radioconcêntrico, apoiado em quatro principais vetores de expansão, que correspondem aos principais eixos viários que partem da Capital (BR 116 e BR 222, e CE 085, CE 040 e CE 060), ao longo dos quais se expande a malha urbana (Figuras 1 e 2). Essas vias assumem papel preponderante na configuração urbana da Metrópole, determinando a estruturação do território. Cada um desses vetores possui sua própria lógica de formação e tem o desenvolvimento ligado aos investimentos recebidos, apresentando padrões de crescimento diferenciados. Os três primeiros relacionam-se com as zonas sul e oeste da metrópole, historicamente ligadas às áreas industriais e de habitação popular; o vetor 1 corresponde ao eixo onde se localizam o Distrito Industrial de Maracanaú e conjuntos habitacionais surgidos nas vizinhanças. O vetor 2 configura-se ao longo da BR 116, concentrando as indústrias situadas nos municípios de Eusébio, Horizonte e Pacajus. O vetor 3 se desenvolve em direção ao município de Caucaia e ao longo da faixa litorânea oeste, abrangendo o complexo Industrial Portuário do Pecém. O vetor 4 situa-se no quadrante sudeste da metrópole, em direção aos municípios de Eusébio e Aquiraz. Constitui o eixo imobiliário mais valorizado da metrópole e abrange também equipamentos de lazer e turismo (DIÓGENES, 2012).

Figura 1. Região Metropolitana de Fortaleza – Configuração Atual. Fonte: DIÓGENES, 2012

Figura 2. Região Metropolitana de Fortaleza – vetores de crescimento urbano e metropolitano. Fonte DIÓGENES, 2012

A seguir, serão enfocadas as diversas fases e transformações mais significativas relacionadas à atividade industrial que ocorreram no âmbito da Região Metropolitana de Fortaleza, as quais tiveram desempenho expressivo no contexto econômico da Metrópole cearense nas últimas décadas e que ensejaram alterações substanciais na configuração urbana e metropolitana.

O processo histórico de industrialização no Ceará e o início da metropolização de Fortaleza

A industrialização no Ceará, de acordo com Amora (2005), pode ser entendida mediante uma periodização que identifica três fases distintas, relacionadas à divisão internacional e nacional do trabalho. O primeiro período tem inicio ainda no final do século XIX e estende-se até a década de 1950; o segundo abrange os anos 1960 até meados de 1980, quando começa o terceiro período, ainda em curso.

A análise apresentada a seguir estabelece como marco do processo de industrialização no Ceará, as atividades fabris suscitadas principalmente com a cotonicultura (algodão), que se relacionam, embora de forma marginal, com o desenvolvimento industrial internacional, apresentando também a utilização de meios técnicos mais avançados no processo de produção. Trata-se, sobretudo, do beneficiamento do algodão e da produção de tecidos e redes (AMORA, 2005).

É importante ressaltar que esta industrialização possui um caráter rudimentar, bem como o seu desenvolvimento é dependente da produção agrícola. Sendo assim, a origem e desenvolvimento dessa fase inicial se inserem de forma secundária no ciclo hegemônico do algodão e da primazia da atividade primária, que até 1960 representava 45,7% do PIB do Ceará1 (LIMA, 2008).

O perfil da industrialização se fundava basicamente na transformação de matérias- primas com predominância do capital local e, embora Fortaleza concentrasse a grande maioria de estabelecimentos industriais, outras cidades como Sobral e Aracati também possuíam indústrias, não existindo um desequilíbrio significativo entre os núcleos urbanos. A localização da maioria das indústrias em Fortaleza se justifica pela

lógica de concentração atrelada à exportação do algodão2, relacionada à presença da ferrovia e do porto, do comércio e serviços, além do fato de ser a capital político-

administrativa.

As oscilações do mercado interno e externo do algodão que perduraram por toda a primeira metade do século XX, além dos períodos de estiagem, não foram suficientes para subtrair a importância da atividade agrícola do algodão e da indústria têxtil de fios e redes no Ceará. Devido ao circuito de caminhos (ferroviário e rodoviário) que convergia para Fortaleza, a maioria dos estabelecimentos industriais de beneficiamento do algodão se concentrava na Capital. A atividade industrial se desenvolveu espontaneamente na porção oeste da cidade, ao longo principalmente do eixo da Av. Francisco Sá, nas proximidades da via férrea. A instalação dessas indústrias marcou o zoneamento da cidade: a zona oeste com concentração de indústrias e atração de um contingente de trabalhadores e ocupação popular; a zona

  1. Em 1970, a participação do setor primário no PIB do Ceará passou para 17,46%, decaindo substancialmente para 6,19 em 2000.

  2. Além das atividades ligadas à produção de fiação e tecelagem, destacam-se no quadro de produção industrial do Ceará a produção de óleos vegetais , de cigarros e de pescados em conserva, as usinas de beneficiamento do caroço do algodão em vários municípios, além de oficinas de fabricação de calçados, móveis e outros artigos de consumo interno, de olarias, marmorarias e muitos outros pequenos estabelecimentos artesanais.

central, que reunia o comércio e os serviços, e a zona leste (Aldeota) que constituía um lócus privilegiado das classes mais abastadas. A construção do porto do Mucuripe em fins da década de 1940 e o processo de atividades que atrai, também são elementos significativos no zoneamento da Cidade à época.

Esse primeiro período da industrialização no Ceará tem uma repercussão espacial concentrada em Fortaleza, sem impactos metropolitanos. Os municípios vizinhos inserem-se na dinâmica socioespacial de integração entre o interior (sertão) e a Capital (litoral) por intermédio dos eixos de penetração históricos da cidade.

É possível inferir, com base nesta análise do primeiro período da industrialização no Ceará, que a importância de Fortaleza em relação à rede urbana cearense e a sua urbanização são expressão não propriamente da industrialização – que neste período era rudimentar -, mas da crescente polarização que a Cidade exercia em sua área de influência como centro regional terciário, que pouco a pouco se integrava ao mercado nacional, em função da industrialização verificada no Sudeste. Some-se a isto a atratividade exercida pela Capital aos imigrantes, vindos do sertão. A Tabela 01 abaixo demonstra o crescimento acelerado da população no período entre 1920 e 1960, com destaque para o aumento significativo entre as décadas de 1950 e 1960, passando de 270.169 para 514.813 habitantes.

Tabela 01: Crescimento Populacional da Cidade de Fortaleza (1920-1960). Fonte: Censos Demográficos/IBGE In: LEMENHE, 1991

+————+—————–+ | > ANOS | > POPULAÇÃO | +============+=================+ | > 1920 | > 78.536 | +————+—————–+ | > 1930 | > - | +————+—————–+ | > 1940 | > 180.185 | +————+—————–+ | > 1950 | > 270.169 | +————+—————–+ | > 1960 | > 514.813 | +————+—————–+

O segundo período da industrialização no Ceará, compreendido entre os anos de 1960 e meados de 1980, se relaciona com o advento da SUDENE. A política industrial preconizada pela SUDENE se voltou seletivamente para a Bahia, Pernambuco e Ceará e tinha como premissa, além da implantação de indústrias mais modernas, a reversão do quadro de atraso das indústrias tradicionais, marcada pela obsolescência do maquinário e até mesmo das relações de trabalho.

As especificidades dos impactos dessas políticas no quadro econômico do Ceará nesse período se sustentam na manutenção e relativa modernização dos setores tradicionais relacionados à indústria têxtil e ao beneficiamento de produtos agrícolas, assim como diversificação de certos produtos.

No caso do Ceará, não teria havido maiores alterações na estrutura industrial, predominando ainda hoje atividades tradicionais que utilizaram matérias-primas locais, do gênero alimentar, vestuário e têxtil. Por outro lado, o gênero alimentar teria sido responsável pela diversificação industrial, surgindo ramos mais dinâmicos como metalúrgica, química e materiais não metálicos (BERNAL, 2004, p. 67).

Outra especificidade do Ceará em relação ao desenvolvimento industrial no período

deveu-se basicamente à iniciativa privada local, diferente do que ocorreu na Bahia e em Pernambuco, com mais empresas de capital nacional. Os investimentos industriais nestes três polos regionais do Nordeste foram desiguais. Fortaleza teve desvantagens no incremento do seu complexo industrial devido a alguns fatores locacionais, como a ausência de infraestrutura, a insuficiência no fornecimento de energia, a precariedade da estrutura de transportes (portuária e rodoviária) e comunicações, bem como a maior distância do polo dominante.

Com o advento da SUDENE e baseado nas suas proposições desenvolvimentistas, se inaugurou o planejamento estatal no Ceará. As estratégias assimilavam os pressupostos do desenvolvimento via industrialização, como forma de superar o caráter rudimentar e manufatureiro da indústria do período anterior. A industrialização funcionaria como uma saída estratégica de combate ao quadro de desigualdade e atraso, provocados pela vulnerabilidade das atividades econômicas da pecuária e do algodão, condicionadas pelas vicissitudes da natureza, (secas periódicas), e pelas oscilações do comércio nacional e internacional.

O modelo de desenvolvimento econômico pretendido inseria-se nos planejamentos governamentais do Estado. Nesse caminho, o PLAMEG I – Plano de Metas Governamentais – (1963-1966), instituído pelo governador Virgílio Távora, criou o aparato institucional necessário à implantação deste novo modelo de desenvolvimento3.

Com o PLAMEG I, inicia-se o processo de industrialização moderna do Ceará, subsidiado pelo fornecimento de energia da CHESF (1965) e pelas obras de infraestrutura, com a reforma do porto do Mucuripe e a implantação do I Distrito Industrial do Ceará em Maracanaú, antigo distrito de Maranguape, município vizinho à Fortaleza. Embora algumas indústrias tenham sido implantadas no interior, sua localização obedecia à lógica da concentração na Capital, confirmando a rede de cidades desequilibrada, caracterizando o processo de macrocefalia. A discreta industrialização e a crise do algodão provocaram a migração e um excedente de mão-

de-obra na Cidade, com grande repercussão na urbanização4.

Diversos planos governamentais5 sucederam o PLAMEG I e foram concebidos de acordo com o contexto político e econômico local e nacional até meados da década de 1980.

Ao mesmo tempo em que a estrutura industrial do Ceará manteve-se ligada às atividades tradicionais que utilizavam matérias-primas locais, do gênero alimentar, vestuário e têxtil, ampliou-se até meados da década de 1980 a participação do setor na composição do PIB. Neste período (de 1959 até meados da década de 1980), o PIB

  1. Entre eles: a Superintendência do Desenvolvimento Econômico e Cultural do Ceará (SUDEC), a Companhia de Desenvolvimento do Ceará (CODEC) e o Banco do Estado do Ceará (BEC) (LIMA, 2004, p. 314). O Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI) também foi outro instrumento criado pelo Governo Estadual para incrementar a atividade industrial.

  2. Contribuiu também, do ponto de vista institucional, para o desenvolvimento dessa fase da industrialização a criação da Universidade Federal do Ceará, em 1955, e o próprio BNB, sediado em Fortaleza, que se empenhou nos estudos e na capacitação de mão-de-obra, além de proporcionar a emergência de uma classe média formada não somente por comerciantes, mas por profissionais liberais.

  3. - PLAIG – Plano de Ação Integrada do Governo - (1967-1971), Plácido Castelo; - PLAGEC – Plano de Governo do Estado do Ceará - (1971-1975), César Cals; PLANDECE – Plano Quinquenal de Desenvolvimento do Estado do Ceará - (1975-1979), Adauto Bezerra; - PLAMEG II – 2º. Plano de Metas Governamentais - (1979-1983), Virgílio Távora; - PLANED – Plano Estadual de Desenvolvimento - (1983-1986), Gonzaga Mota.

cresceu de 10,3% para 26,8%, ao passo que o setor primário declinou de 34,0% para 14,6% (BERNAL, 2004). Este quadro quantitativo revela uma crescente industrialização no estado, mas ainda fortemente concentrada na Capital.

Os distritos industriais, outra estratégia criada pelos estados para atrair indústrias, além dos incentivos fiscais e financeiros, foram implantados principalmente nas áreas metropolitanas das capitais, em função das vantagens locacionais, como a proximidade a rodovias, portos e aeroportos e a oferta de serviços existentes.

No caso específico de Fortaleza, a implantação do Distrito Industrial em Maracanaú na década de 1960 não conseguiu lograr êxito nos primeiros dez anos, em função da precariedade da infraestrutura e das vantagens oferecidas pelo polo industrial da Francisco Sá, já tradicionalmente consolidado em Fortaleza. Embora o desenvolvimento do Distrito Industrial tenha ocorrido de forma retardada em relação à política industrial pretendida, sua implementação foi responsável pela gênese do processo de metropolização de Fortaleza na década de 1970, associada à presença da indústria e dos conjuntos habitacionais que surgiram nas proximidades, favorecendo a oferta de mão-de-obra.

A metropolização verificada em Fortaleza neste período se justifica em função de dois processos combinados: o primeiro, relativo às políticas industriais da SUDENE, que redundaram na implantação de indústrias na escala intraurbana e posteriormente no Distrito Industrial, mas não foram suficientes para absorver o ritmo de crescimento da população, decorrente do excedente de mão-de-obra e da imigração constante proveniente do campo; o outro se refere ao processo de industrialização verificado no Brasil, que reforçou o papel das metrópoles regionais como polos terciários.

Sendo assim, constata-se que a urbanização de Fortaleza não possui vínculos apenas com a industrialização local, mas também com a repercussão da industrialização nacional, na medida em que o refluxo do desenvolvimento industrial do Sudeste contribuiu para a ampliação do setor terciário nos centros regionais (PAIVA, 2011).

A Tabela 02 demonstra que a população de Fortaleza, entre a década de 1960 e fins da década de 1980 triplicou, confirmando os efeitos da hiperurbanização provocados pela industrialização nos países periféricos que apresentam altos níveis de crescimento populacional, caracterizando a urbanização desigual.

O crescimento da mancha urbana de Fortaleza, contextualizado com o território metropolitano pode ser observado ao longo dos eixos viários (Figura 3), principalmente no sentido oeste, sul e sudoeste, áreas de ocupação das classes menos favorecidas. A partir da década de 1970 já se percebe uma ocupação mais efetiva nas áreas litorâneas, com o fenômeno urbano da segunda residência.

Tabela 02: Crescimento Populacional da Cidade de Fortaleza (1960-1991) Fonte: Censos Demográficos/IBGE In: LEMENHE, 1991

+————+—————–+ | > ANOS | > POPULAÇÃO | +============+=================+ | > 1960 | > 514.813 | +————+—————–+ | > 1970 | > 857.980 | +————+—————–+ | > 1980 | > 1.308.919 | +————+—————–+ | > 1991 | > 1.768.637 | +————+—————–+

Figura 3. Mapa Fortaleza e RMF – Evolução da Mancha Urbana – 1932-1980. Fonte: PAIVA, 2011

A desconcentração industrial e a expansão metropolitana

A terceira fase de implantação industrial no Ceará, que tem início nos anos 1980, intensifica-se na década seguinte, inserindo-se no contexto de reestruturação produtiva da economia mundial e que iria impor novos padrões competitivos, acompanhados de uma crescente abertura internacional das economias.

Essa fase é caracterizada também pela política de desconcentração industrial, que incentivou a descentralização dos empreendimentos industriais, transferindo-os para outros municípios. Esse movimento ocorreu em duas escalas. Primeiramente, a vinda de indústrias do Sul e Sudeste do País, como forma de desconcentração do parque industrial daquelas regiões, sobretudo de São Paulo, enquanto no âmbito local, efetuou-se a tentativa de descentralização da Capital, direcionada a outros municípios do Estado e da RMF.

Desde os anos 1990, verifica-se, portanto, a expansão do setor em eixos e mini- distritos na RMF, ao longo das rodovias federais e estaduais, nos municípios de Horizonte, Pacajus, Pacatuba, Eusébio, Maranguape e Caucaia, vinculada à política estadual de atração de indústrias6.

A implantação de indústrias em outros municípios7 diversifica o quadro de

  1. As atividades industriais na RMF se distribuem principalmente nos setores da construção civil, do extrativismo mineral e de transformação. A indústria de transformação é o ramo mais significativo da produção industrial, onde se destacam os segmentos têxteis, vestuário, calçados e alimentos.

  2. Outro aspecto relativo à política de interiorização da indústria diz respeito à possibilidade de reduzir os custos da produção e, consequentemente, propiciar maior lucratividade. Além disso, também apresenta vantagens

distribuição do setor industrial no Ceará, embora ainda permaneça importante concentração em Fortaleza, que abriga praticamente metade do total das indústrias do Estado. No que se refere à problemática da descentralização do setor industrial no Ceará, Silva e Dantas (2009, p. 17) comentam que:

No concernente à RMF, tem-se um redimensionamento de lógica de urbanização na escala da metrópole, o que implica na relocalização da indústria em municípios que a compõem, adquirindo Fortaleza papel preponderante, em função do sistema de vias pautado no transporte rodoviário e convergindo para a zona portuária do Mucuripe e, atualmente, do recém-construído Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante.

A implantação do corredor industrial ao longo da BR 116 interferiu sobremaneira na modificação dessa área, passando a atrair maior número de pessoas8 para as proximidades, tendo em vista as oportunidades de emprego, contribuindo assim para o processo de expansão metropolitana.

A concentração industrial nesse eixo se impõe como mancha expressiva no traçado urbano descontínuo junto à BR 116. Os lotes destinados às indústrias são todos de grandes dimensões e, apesar do porte das edificações, ainda há grandes extensões de terrenos livres.

A dinâmica de ampliação e descentralização da atividade industrial segue, portanto, uma trajetória de afastamento da Capital. Esta expansão é em parte responsável pela ocupação do espaço urbano da Região Metropolitana, sendo viabilizada também pela sua maior abrangência institucional, ao se incorporarem à região os municípios de Horizonte, Pacajus e São Gonçalo do Amarante.

O período mais recente do desenvolvimento industrial no Estado relaciona-se com a criação do Complexo Industrial Portuário do Pecém, o CIPP, entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, decorrente de projetos governamentais seguindo a lógica do desenvolvimento exógeno9. A instalação do CIPP constitui um dos investimentos de maior impacto no território metropolitano, concebido como uma

estratégia para incrementar diversos setores da economia do Ceará.

O CIPP, que abrange investimentos de peso (como a siderúrgica e a refinaria), ao se consolidar10, deverá causar impactos significativos na estrutura econômica da Região Metropolitana de Fortaleza e, por extensão, no perfil ocupacional de sua população,

substanciais para os empresários, no sentido de favorecer maior distanciamento das lutas sindicais, presentes nos grandes centros.

  1. De acordo com dados do Censo 2010, o Município de Horizonte foi o

    que mais cresceu em população no

Ceará nos últimos dez anos (63,3%). O chefe da unidade estadual do IBGE, Francisco José Moreira Lopes, explica que o crescimento populacional de Horizonte e outras cidades da Região Metropolitana, como Eusébio, Pacajus e Caucaia, deve-se à maior oferta de empregos em indústrias que se instalaram nesses municípios.

  1. O desenvolvimento exógeno é aquele realizado com investimentos (materiais e serviços) oriundos de fora da região. Ocorre principalmente mediante a instalação de empresas cuja matriz não é da região. São geralmente empresas de médio e grande porte que se instalam em função de algum atrativo que a região oferece, seja por motivos logísticos ou pela disponibilidade de recursos humanos habilitados.

  2. Desde a sua criação, o CIPP tem como objetivo criar um “retroporto” de amplo espectro (siderúrgica, refinaria e indústrias petroquímicas, etc.) de modo a consolidar um conglomerado industrial que modifique a ocupação da

área, transformando-a em zona urbanizada autônoma, definida pela concentração de pessoas, geração de empregos, etc. Por enquanto, porém, limita-se à polarização aos arredores do porto propriamente dito.

transformando-se num dos principais polos de desenvolvimento contemporâneo da metrópole.

Cabe ressaltar, pois, a questão da localização da atividade industrial em território cearense, quando se verifica uma concentração acentuada na RMF, espaço escolhido pela maioria das indústrias, seguindo a lógica capitalista da concentração espacial, apesar das políticas recentes preconizadas pelo Governo Estadual relativas à interiorização do setor industrial. A localização das indústrias, portanto, constitui fator essencial para o processo de metropolização em curso.

Figura 4. Mapa Dinâmica Industrial RMF. Fonte: DIÓGENES, 2012.

Considerações finais

As mudanças ocorridas na economia, particularmente aquelas relacionadas à atividade industrial, influenciaram sobremaneira a expansão metropolitana de Fortaleza. Se, num primeiro momento, até a década de 1960, a atividade industrial se concentrou na Capital, a partir de então, a progressiva implantação de indústrias no território metropolitano determinou uma alteração significativa na urbanização da RMF.

A atividade industrial se descentraliza em direção a outros municípios, principalmente Maracanaú, Caucaia e Eusébio e, posteriormente, o corredor industrial da BR 116, entre os municípios de Pacajus, Horizonte e Chorozinho. Mais recentemente, a implantação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém - ainda em fase de consolidação - apresenta perspectivas concretas para um futuro próximo.

A localização da indústria revela, pois, um nível de integração na metrópole mediante um sistema de vias, conforme citado anteriormente, que corresponde aos eixos viários de penetração para o interior – os vetores de expansão urbana, alterando o antigo modelo de concentração, visto no início do processo de industrialização (pré- SUDENE), restrito ao setor oeste de Fortaleza.

Agem no processo de metropolização de Fortaleza diversas dinâmicas (industriais, terciárias, turísticas e imobiliárias) que concorrem para expansão da mancha urbana e transformação do tecido urbano, que se desenvolvem sobretudo nos antigos vetores, onde se verifica a coexistência de padrões de metropolização historicamente distintos, qualificando a complexidade da Metrópole.

A população metropolitana se expande ao longo dos eixos mais antigos, relacionados à lógica de desconcentração industrial, implementação de conjuntos habitacionais e crescimento da “periferia dos pobres”, ao passo que nos municípios litorâneos, onde prevalece a dinâmica do turismo e imobiliária, ambas voltadas para os ricos, o crescimento populacional é menor.

No que concerne ao desenvolvimento do setor industrial e ao crescimento econômico do Ceará, de modo geral, alguns aspectos devem ser destacados, como a participação do Poder Público – o Estado – como agente do processo de acumulação de capital, atuando como propulsor e incentivador da implantação industrial, mediante programas de incentivos fiscais, bem como a instalação de infraestrutura, como atrativo e suporte para a instalação de indústrias.

Referências bibliográficas

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